sábado, 14 de março de 2015

Os sentidos



A língua
Se um dia os sabores das coisas não mais existir ou me for ausente
A mim tão pouco importaria
Morreria de fome, à míngua, apenas com a saliva do céu da boca e o ar que nela habita.

O tato
Se me amputassem os membros inferiores ou quaisquer dos órgãos vitais, pouco me importaria. Já estaria morto, porém vivo. Vivo e morto.

A visão
Se me arrancassem os olhos não reclamaria, o olho é o que faz morrer. Seria santo. Um santo sem olho, é claro, um mártir com a bandeja na mão e os olhos esbugalhados a me olhar.

A audição
Se não mais tivesse a audição pouco me importaria, viveria com a vibração das coisas, me arrastaria como serpente a descobrir o tempo e o som das coisas.

O olfato
Se me retirassem o cheiro das narinas estaria tão inútil e tão débil, que não me importaria se me faltassem os outros sentidos. Não me tirem o cheiro!
Nem do aroma, nem do podre, nem do vil. Isso me faz útil.

Reconheço ali ao longe o cheiro do amor, da dor, das desilusões.
Por favor, retirem-me o tudo e o nada. Deixem apenas o cheiro. É o que me faz útil.

sábado, 9 de agosto de 2014

Capazcidade



Capascidade
Capas na cidade
Figuras
Neologismo

Tira-me as maçãs
Tira-me as uvas
Deixe as polpas
“Facilita-me”

“Desaglutine-se”
Palavras aglutinadas
Bem-te-vi
“Bem-que-não-vi”
Giras-sois

“Facilita-me”!

Palavras justas
Palavras postas
Palavras justapostas
Palavras!

Ao vento
À Sorte
Sincericidas!
De toda sorte

Confusão!
“Facilita-me”

De graça
Capitalizada
Ridículas

Verbo
“Verbalize-se”
“Moralize-se”

Facilita-me!
Confusão!
(Des) confusão!
(Des) confunda-me!

Capazcidade
Capascidade
Capas na cidade
Menos palavras mais transparência.
(Des) confusão!


sábado, 12 de julho de 2014

Negativas



Não,
Não, 

E não.


O não que me recobres,
O não que fascina,

O não que repele.


Não jogado ao vento,
Pelas esquinas

A redobrar.


O não que todos esperam
Sem contar as horas 

Sem muito falhar.


O não de amores
E desamores,

O não da proteção.


O não que rói a unha,
O não fraterno,

O não do descaso,

O não do pecado.

O não que salva,
Que diz alerta,

Que puxa pela mão.


O não que endoidece,
O não que fornica.

O não que padece.


Não!

O Não que faz morrer.

domingo, 1 de junho de 2014

Um Cão Andaluz e o silêncio que fala

Um Chien Andalou é o título em francês para o filme dos espanhóis Luís Buñuel e Salvador Dalí. A película lançada em 1928, na França, é umas das mais representativas obras da filmografia experimental surrealista.



“A civilização nos apresenta imposições com cujo ônus de sofrimento todos
têm de lidar e que se originam de três fontes: “[...] o poder superior, a fragilidade de nossos próprios corpos e a inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade”.
(FREUD, 1930 [1929] / 1996, p. 93 apud SILVA, 2012, p. 61).

A escolha da citação faz-se de maneira proposital. Nela estão contidos os conceitos, embora implícitos, fundamentais que regerão o entendimento da Teoria do Recalque, que veremos adiante no presente ensaio.
Certamente, Um Cão Andaluz é a narrativa que melhor representa o Manifesto Surrealista, introduzido por André Breton, cujo ‘movimento em questão almejou alcançar o espaço no qual o homem se libera de toda repressão exercida pela razão’, é o que o afirma BRIDI, DA SILVA, PONTES e CAMARGO (2011) em ensaio intitulado ‘Movimento surrealista: da torre eiffel para o mundo’.

‘Era uma vez’ é a expressão que dá início à película de Buñuel e Dalí, aludindo às obras literárias que desde sempre se produziu: narrativa linear, com começo, meio e fim e sua forma romanceada de enredo. Ao mesmo tempo, porém, essas obras com estrutura engessada transmitem ao interlocutor, seja do livro ou do filme, um estilo cuja recepção se dá de maneira mastigada ao enredo que está para acontecer, marcando assim a previsão e a superficialidade deste.
Subvertendo as leis os espanhóis fogem do padrão produzindo uma obra que têm como elementos: a sátira, o desejo reprimido e o inconsciente. Este último vale-se do ponto-chave para os estudos de psicanálise de Freud – o recalque.

‘O inconsciente’ em Freud é o material recalcado. Para que haja o recalque a consciência é considerada como algoz. Trocando em miúdos, os desejos são reprimidos pela consciência, que faz o seu próprio julgamento; já o inconsciente é onde habitará o material de fuga do jugo da consciência. Tudo que não é permitido na consciência o inconsciente absorve convertendo em desejos, sonhos, o mundo fantasmagórico das portas que se abrem e se fecham indo ver no mar a sua razão - o absurdo é a sua força motriz. Eis o sonho, nada mais que isso.
Um Cão Andaluz se tivesse sido feito por Freud seria, talvez, a personificação do sonho e da inconsciência.

O anacronismo recorrente no filme poderia ser o relato do sonho de muitas pessoas. A maneira contada pela narrativa passeia de ‘oito anos depois’ para dezesseis anos antes’, num contexto implausível. Cumprem-se as noções de existência do Manifesto Surrealista reiterado pela ausência de lógica e exaltação à liberdade de criação, como num ócio criativo e catártico dos artistas que maquinam sua obra.

              A libertação do regime vigente poderá ocorrer na forma de arte ou na literatura como legítima defesa. Um trecho do filme que elucida essa libertação do regime pode ser vista na cena em que o ator Pierre Batchef busca satisfazer seus desejos sexuais representados pelo toque das mãos sobre os atributos femininos – os seios. Para reprimir é necessário levar nas costas dois pianos de cauda – representando a arte como instrumento libertador -, e dois personagens masculinos vestidos de eclesiásticos - representando o clero ou a instituição religiosa ou as várias instituições que reprimem o ato individual da liberdade. Em outra cena, não menos surreal, dois personagens masculinos se confrontam e um deles concede ao outro, dois livros, que se transformam em armas a serem disparadas, eis a literatura como instrumento de legítima defesa.
A expressão ‘um grande desejo de matar’ é representada pelo êxodo das formigas nas mãos do ator, que pode ser interpretada pela quebra por excelência das regras, corrobora a isso LACAN (1957):

“O homem é efetivamente possuído pelo discurso da lei, e é com esse discurso que ele se castiga em nome dessa dívida simbólica que ele não cessa de pagar sempre mais em sua neurose”.
(LACAN, 1957 [1956], p. 276 apud SILVA, 2012, p. 68)

O desejo de matar é o desejo primário do homem. Matar-se a si todos os dias. E recompor-se na vida corpórea, espiritual e artística. Matar a ‘Consciência’.

A crítica feita aos costumes da sociedade se faz presente em pelo menos três momentos do filme. Um desses momentos transmite a banalidade acerca da morte na cena em que uma mão cortada e jogada na rodovia é manuseada por uma mulher com um pedaço de madeira; essa mesma mulher espera a morte vinda num atropelamento de carro, sendo assistido por dois outros personagens que não esboçam reação ao fatídico atropelamento. A crítica à banalidade, anteriormente referida, pode ser encontrada no dia a dia da sociedade, no consumo diário das notícias policiais.

Retornar à frase inicial de Freud é contextualizar o que se pretende transmitir na película de Buñuel e Dalí: a sociedade sofre sempre mais e pior pelo pensamento gerado no outro acerca daquilo que somos, queremos, temos ou parecemos ser e ter. Um Cão Andaluz vai na contramão da produção clássica de um enredo ideal, de um fantasma inverossímil da realidade, e porque não dizer utópico? A realidade aqui é a verdade de cada um. Verdade conduzida na obra inacabada daqueles. Não pela incoerência do diálogo mudo. Afinal, nem uma palavra foi dita, mas muitas outras foram sendo desveladas por parte de quem as lê e refaz a ideia original. Uma reescritura é sempre uma extensão do pensamento original, complementa e deixa um legado à humanidade. O legado da percepção do universo abismal ao nosso redor.     

O silêncio serve ao aguçamento dos outros sentidos que antes eram marginalizados. Ponto para o cinema mudo. Neste filme não foi preciso ouvir, apenas ver e sentir o que estava sendo dito. A repressão serviu à expressão. Repressão que é destrinchada por vários momentos na obra de Freud, Buñuel e Dalí. Nas Teorias da Comunicação estuda-se uma repressão silenciosa, intitulada de Teoria da Espiral do Silêncio, alcunha da alemã Elisabeth Noelle-Neuman que diz:

“O que entendemos por silêncio está ligado diretamente ao medo que todos os indivíduos têm de se encontrarem isolados quanto aos seus comportamentos e opiniões. [...] A metáfora sinalizada pela espiral deixa evidente a questão progressiva da opinião majoritária, e não apenas cíclica da postura do silêncio. Quanto mais uma opinião expressa como aquela dominante tiver representatividade e repercussão, menos as opiniões minoritárias tendem a ser transmitidas”.
(SILVA, 2011, p. 34-35)

Um Cão Andaluz é o ‘soco’ no tempo, na cronologia das coisas e sistemas cristalizados e impossíveis de serem quebrados. Possibilidade que não se cogitou na produção deste. Se em outra época existia a fala da mulher, a voz do negro, o desejo reprimido do indivíduo realizado apenas no sonho – o inconsciente; nesta, o pensamento reacionário, a repressão e a consciência – a razão - provam do seu próprio veneno. Reprimiu-se o repressor. Libertou o reprimido. A redundância é permitida na vanguarda surrealista encabeçada por Dalí e Buñuel, onde o grotesco será exaltado e não por falta de razão, mas pelo excesso de inconsciência. 



* Graduando do 7º período de Comunicação Social, no Centro Universitário Estácio do Ceará, participou do Curso de Extensão: Literatura e Cinema: um passeio intersemiótico pela cultura iberoamericana na Universidade Federal do Ceará – UFC.

Referências

BRIDI, João Pietro; CAMARGO, Maria Aparecida Santana, DA SILVA, Anna Paula Zamberlan; PONTES,
Karine dos Santos; Movimento surrealista: da torre eiffel para o mundo. Disponível em: <http://www.unicruz.edu.br/seminario/artigos/humanas/MOVIMENTO%20SURREALISTA%20DA%20TORRE%20EIFFEL%20PARA%20O%20MUNDO.pdf> Acesso em: 26 de maio de 2014.

DEUS, Juliana Almeida de. A construção das narrativas jornalísticas à luz do filme “um cão andaluz. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCL/Pesquisa_e_Extensao/A_CONSTRUCAO_DAS_NARRATIVAS_JORNALISTICAS_A_LUZ_DO_FILME__UM_CAO__ANDALUZ_.pdf> Acesso em: 25 de maio de 2014.

FREUD, Sigmund, 1856-1939. Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos, (1914-1916) / Sigmund Freud ; tradução e notas Paulo César de Souza,  São Paulo: Companhia das Letras, p. 82-138, 2010.

JORGE, Juliana David. A construção da associação livre na obra de Freud, Belo Horizonte, MG, p. 75-115, 2007.

LUCINDA, Tatiana Vieira; ALVARENGA, Nilson Assunção. Um Cão Andaluz: lógica onírica, surrealismo e critica da cultura. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2007/resumos/R0081-1.pdf> Acesso em: 25 de maio de 2014.

MURARI, Lucas de Castro; PINHEIRO, Fábio Pinheiro Francener. O expressionismo alemão e suas múltiplas devirações americanas. Disponível em: <http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/Comunicacao_2012/Publicacoes/O_Mosaico/Numero_7/OMosaico7_Artigo11_Murari.pdf> Acesso em: 26 de maio de 2014.

SILVA, Angela Cristina da. Os fundamentos freudianos e as aplicações da psicanálise: condições, possibilidades e implicações, Curitiba, PR, p. 61, 2012.

SILVA, Sandro Takeshi Munakata da. Teorias da comunicação nos estudos de relações públicas: lacunas e indicações de novas aplicações, São Caetano do Sul, SP, p. 34-35, 2011.

YOUTUBE. Um Cão Andaluz. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WL81wuYbFwI Acesso em: 25 de maio de 2014.


quinta-feira, 8 de maio de 2014

EMBARCAÇÃO


O barco sai à procura do mar revolto e necessário.
Os tripulantes rumam ao infinito e azul do firmamento.
Embasbacados sem saber por qual caminho seguir, reagem ao capitão.
O capitão não escolhe. Delega.
O tripulante não desiste. Escolhe outro caminho.

Cada gota do Atlântico é uma lágrima que cai.
Há quem persista em dizer que as escolhas são errôneas.
Se não fossem as errôneas não descobriríamos as certas.
Paradoxo indispensável desde a gênese.

O pessimista vê no infinito a imensa onda tortuosa e incerta a percorrer;
O otimista olha para trás e diz: Puxa! Cheguei até aqui! Mas poderia ter sido pior.

Quantas embarcações não ficaram à deriva?
Quantos náufragos afastaram-se da terra firme?
Acovardar-se?
Para quê?

A quem ensinaria e o quê ensinaria se não fossem as intempéries e dissabores que a vida nos reserva?


Não encontraríamos nenhuma ilha, nem sua beleza, se não tivéssemos a ousadia de ir buscar no mar o nosso novo destino. 

Carta ao ódio (ou meu infortúnio)



De olhos bem fechados e a boca meio aberta despertara de um mundo que não ouso dar-lhe nome.

Flutuava, saia do chão com tamanha dedicação que merecia todos os louros e coroa fúnebres.

Embora o sorriso safado viesse à superfície era complacente com suas atitudes e me deixava transpor de corpo e alma - não sabia se era mais corpo ou se mais alma. Apenas dedicava o corpo e a alma de tal maneira, que os ossos eram triturados e o sangue chupado como uma fruta em sua época.

Abrindo os olhos, pondo os pés no chão, vi que tudo não passava de um sonho.
Se me perguntarem se acredito em vidas paralelas, direi que sim, ora, esses bichos diabólicos, que não sei sua procedência divina estarão sempre à margem.
Arrancaram a minha carne, sugaram o pouco de sangue que me restava.

Se fosse uma carta dedicaria a vocês, malditas muriçocas ou se preferirem pernilongos.

Em vez de com amor termino: com todo o meu ódio!

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Um homem também chora (Guerreiro Menino)

"Um homem se humilha
 se castram seus sonhos
Seu sonho é sua vida 
e vida é trabalho
E sem o seu trabalho 
o homem não tem honra
E sem a sua honra 
se morre, se mata".


Composição: Gonzaguinha


quarta-feira, 30 de abril de 2014

O Amor me engoliu




O Amor me engoliu
Engoliu-me o amor
O Amor me engoliu.

O Amor puxou meu pé
Arrancou-me as unhas
Soprou os meus dedos.

O Amor no cérebro deixou detritos
Arrancou-me a pele
Sugou meu sangue
Comeu meu fígado.
O amor me engoliu!

O Amor tirou-me o juízo
Costurou minhas vísceras
Estourou meus tímpanos

O Amor gritou tão alto
Pulou a cerca
Roubou-me a Lua
O Amor endoideceu-me
Esfriou a noite
Tirou meu Sol
O Amor me engoliu!
O Amor tirou-me a visão
Arrancou-me os pelos
Afastou as nuvens
O Amor fez do sonho pesadelo
O Amor devassou
O Amor me engoliu
O Amor me secou
O Amor não existe

O Amor fez tudo isso!





sábado, 21 de abril de 2012

Nada além do Face...


Há muito se falou que uma Terceira Revolução estaria para eclodir. Aproveitando o ensejo, afirmo que ela já chegou e tem-se deflagrado através do fenômeno mundial: redes sociais virtuais, e com ele surge também o Face.

Facebook para quem não sabe é um site, diga-se de passagem, de relacionamento. Site este que permite postar fotos, vídeos, frases preferidas.... com o intuito de que sejam "curtidos" ou compartilhados por todos.
Não se trata apenas de um simples site inocente, em que a vida do outro é evidenciada e comentada por uma infinidade de pessoas.
Depois da invenção da roda e do fogo, ambos se tornaram primordiais, o Face não fica atrás, e por que não dizer vital às vidas virtuais? Perdi as contas de quantas pessoas deixaram de me dar atenção para acessar a página nos seus brinquedinhos eletrônicos. O fato é que tem se tornado uma "droga cultural", substitui-se o real pelo reles virtual. Hoje tudo é virtual! Amizade virtual, namoro virtual, DR (Discutir a Relação) virtual, balada virtual, culto virtual, Deus ou deuses virtuais, altares eletrônicos enfim.

A sensibilidade humana se resumiu às expressões dos emoticons e MEMÉS (desenhos populares com frases engraçadas na rede ). Por ser um site de relacionamento, toda tribo usuária se dispõe a relacionar-se apenas virtualmente, o curioso é que ninguém mais ou uma parcela bem mínima telefona ou manda torpedo. O papo agora, é seguir o outro ou então curtí-lo.

Assim como os anúncios de cigarro e de bebida, o Face deveria ter indicação para maiores de dezoito anos ou então a frase: use com moderação e, o Ministério da Saúde adverte: quem entra no submundo das redes sociais virtuais como Facebook, MSN, Twitter, Orkut (é o novo!) causa dependência, insônia, falta de apetite, intriga, ciúmes, separação de casais, conflitos internos e externos, etc (estes termos continuam).

Perceba que os sintomas são bem parecidos com os de uma droga ilícita.

Talvez o nosso mal esteja no exagero, sempre! Nunca agimos com cautela em relação às coisas que nos dá prazer. O Face é o fruto proibido da modernidade. Nos deixa cientes do bem e do mal, o mal das pessoas, aquilo que elas postam é o que tem de melhor ou de pior dentro delas. Somos psicólogos virtuais, e confessionários virtuais. Há quem poste declarações religiosas como: "Esta Pessoa Ama A Deus Sobre Todas As Coisas"- provavelmente esta mesma pessoa não orou, fez uma prece ou leu a bíblia durante o dia, até porque o Face não deixou; inúmeros relatos de pessoas que estão tristes também não ficam de fora.

Deixo claro que não sou contra a evolução/progresso da tecnologia, só reconheço que não estamos preparados para recebê-la/lo, habituamo-nos, porém não nos preparamos para as lacunas que esses "avanços" nos proporcionam. As mazelas estão à margem, ou melhor, arraigadas em tudo o que se sabe ou estar para saber, por mais apocalíptico que isso seja. Um estudo aprofundado acerca do impacto mental, social, interpessoal (principalmente) precisa ser revelado. Continua...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quando me disseram que a vida é passageira...


Quando me disseram que a vida é passageira...
Ah! Comecei a valorizá-la como nunca antes valorizei.
Amei minha família,
Meus amigos (que não são muitos),
Minhas crenças,
Minhas ideologias.

Quando me disseram que a vida é passageira...
Tentei registrar em minha mente os momentos mais marcantes,
Afinal, para que perder tempo memorizando coisas ruins?

Quando me disseram que hoje é o progresso de ontem, parei.
Quando me disseram que a vida é feita de humanos potáveis, parei.
Quando me disseram que havia algo para ser feito, continuei...

Há muita coisa para aproveitar:
As dores,
as chagas,
as intempéries,
as bizarrices.

Insiro, imediatamente, os malefícios.

A vida, assim como a árvore, busca o gotejamento da mínima porcentagem de água.
Enquanto houver vida haverá água, e consequentemente, vida haverá.

Tento me livrar dos clichês que a vida proporciona, mas é inútil.
Um dia você nasce, embora não tenha pedido (os frustrados que me desculpem), cresce, passa pela adolescência, torna-se adulto, busca carreira profissional ou religião, constrói família ou famílias (os bígamos que me desculpem), envelhece e morre. Talvez dessa sequência, a morte não seja tão clichê assim. Logo, nunca vi ninguém relatar sua morte além-túmulo (os espíritas e os antigos egípcios que me desculpem). Ora, tem uma gota de vida esbravejando pra sair.

Quando me disseram que seria possível a finitude da vida me preparei. Amarrei-me com todos os santos, todas as datas sacras, todas as virtudes beatas, todas as imaculadas senhoras.

"Aproveitar o dia como se fosse o último", essa frase é tão clichê quanto a vida.
Para não me perder nisso me preparo, pois perco muito tempo aqui escrevendo.

Quando me disseram que a vida era passageira...
Peguei o papel, a caneta e comecei a escrever bem rapidamente.
Fui aproveitar o tempo que passa. E fui ligeiramente, por que um dia me disseram que a vida é passageira.